A Venezuela tem alguns obstáculos sendo o primeiro conseguir lá chegar. De Manuas até ao nosso destino, as caraíbas, separavam-nos 1959 km pela floresta Amazónia e pelo Parque Nacional Canaíma. Mas estas não eram as nossas preocupações. O facto de só em Manuas nos termos informado que para entrar na Venezuela precisaríamos da vacina da febre amarela válida, e que esta demora 10 dias a fazer efeito após de tomada, começamos a pensar em alterar os nossos planos. Mas as alternativas eram piores (e mais caras) do que arriscar entrar de qualquer forma. Afinal, o pior que podia acontecer era termos que voltar para trás cerca de 918 km pela floresta. (Quanto à febre amarela, tomámos a vacina gratuitamente mal tivemos a noticia, só não esperámos os 10 dias!)
Como nenhuma empresa de autocarros que fazia o trajecto Manaus-Venezuela nos quis vender bilhete (diziam que assim não conseguiríamos entrar no país do Chavez) tivemos que seguir viagem por nós próprios. Fomos de autocarro até à cidade de Boavista, onde trocamos para uma camioneta que nos levou até à fronteira do Brasil. Até à Venezuela faltavam 2 km! Estávamos quase e tudo estava a correr na perfeição mas…há sempre um “mas”… todos os autocarros que se encontravam no lado do Brasil (e que iam directamente para a costa na Venezuela) ou estavam avariados, ou tinham acabado de ser apedrejados no lado da Venezuela. Ou seja, não havia transporte para o “lado-de-lá”, era hora de almoço (e a fronteira estava fechada) e Portugal ia quase começar a jogar com a Alemanha. Até meio da primeira parte do jogo não nos preocupamos muito com o que fazer, mas tudo mudou quando os brasileiros optaram por mudar de canal para ver o jogo amigável entre o Brasil e a Argentina. Ficámos tristes e agora estávamos a correr contra o tempo. Despedimos-nos amargamente do Brasil e caminhamos em direcção ao país que diziam ser muito perigoso e que certamente iríamos ter problemas, principalmente com a policia corrupta. Foi como sair de uma estrada de pó e entrar numa impecavelmente alcatroada, literalmente! A passagem pelo serviço de imigração foi do mais célere possível (também só éramos nós os dois) e apenas foi necessário apresentar o passaporte e fazer o “check in” no livro de registo de entrada (semelhante aos dos hotéis – nesta sala não havia sequer computadores). Para festejar a boa entrada na Venezuela tirámos a nossa foto habitual, desta vez com a ajuda da policia militar (que para nós foi simpática e sempre prestável). Da fronteira até à primeira cidade eram 16 km, estes já eram mais complicados de fazer a pé e sem táxis nem autocarros por perto decidimos pedir boleia. Não demorou mais do que 5 minutos até uma pick up de caixa aberta parar e nos perguntar para onde queríamos ir. Subimos para a caixa aberta e passado 15 minutos já estávamos a apanhar um táxi (conduzido por um português) do centro da cidade de Santa Elena de Uairén até à estação dos autocarros.
Contudo, na estação do autocarros, ainda tivemos tempo de sofrer os últimos 10 minutos do primeiro jogo de Portugal no Euro2012. Gostámos do que vimos e ficou a promessa que os próximos jogos teriam que ser vistos com mais calma e concentração. Horas mais tarde, já pelas 8 da noite, apanhámos o autocarro que nos iria levar até à cidade Bolivar, no centro da Venezuela. Daí foi só apanhar um táxi para fazer os restante 260 km até à cidade balnear de Puerto de la Cruz.
O primeiro desafio não foi dos mais fáceis, mas ao final de 23 horas conseguimos chegar à vila de Santa Fé, no Parque Nacional Mochima.